quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Como disse Drummond

"Recomeçar

Mesmo que o hoje te dê um não, lembre-se que há um amanhã melhor, a certeza de que os nossos caminhos devemos traçar ao lado de quem nos ama; com amor, paz, confiança e felicidade, é a base para se recomeçar.
Um recomeço, pra pensar no que fazer agora, acreditando em si mesmo, na busca do que será prioridade daqui pra frente; PLANOS? Pra que os fizemos, já que o amanhã é mistério? A qualquer momento pode ser tempo, de revisar os conceitos e ações, e concluir, que tudo aquilo que você viveu marcou, porém não foi suficiente pra que continuasse.
As lembranças passadas ficam, tudo que vivemos era pra ser vivido , o destino é como um livro do qual nós somos os autores, ele não vêm pronto, antes de nascermos ele está em branco, ao nascermos introduzimos as primeiras passagens, um começo, com o tempo através das escolhas vamos escrevendo-o página por página, rabiscadas, rasgadas ou marcadas, onde encontramos obstáculos onde indicarão a melhor hora pra recomeçar, nos últimos dias de vida concluiremos, e no final deixamos nossas historias marcadas no coração daqueles, que sempre farão parte de nossa historia, onde quer que estejam.



Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo, é renovar as esperanças na vida e o mais importante, acreditar em você de novo."
  Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Parei de Escrever

Parei nada! O que falta é assunto. Então vale qualquer coisa:
Vou tentar descrever a personalidade de um amigo muito louco, louco mesmo. Ele é uma figura! Não diz nada com nada, like me. (Parêntese - agora a periquita da vizinha tá pegando fogo, é um mexe-mexe na porta que me tira a concentração... Acho que agora extinguiu-se).
Ele, como eu dizia, não bate bem. Volta e meia me vem com uma(s) piada(s) incompreenssíveis que me faz morrer de rir só de ver ele morrer de rir. Ele é garçom e me conta a mesma piada todos os dias, fora as vezes que conta aos outros clientes e inevitavelmente eu escuto. Já decorei e esqueci, mas que é engraçada, é, pois já da vontade de rir (dele, não da piada) cem metros antes de chegar no restaurante. As vezes digo: Conta outra! E ele conta!?
Na verdade, não é personalidade, é perfil. Ele é um senhor de sessenta e seis anos mais ou menos, garçom aposentado, que se desaposentou por necessidade ou por vício, mas de uma espiritualidade contagiante que cativa a clientela.
Outro dia ele me perguntou: _Você tem face? Aceitei o cara no facebook e descobri que ele é um grande poeta, que tem livro de poesias publicado (por sinal ele me deu um), que é compositor de música popular, e, provavelmente, um bom contador de piadas além de um ótimo garçom.
Amanhã vou contar pra ele que eu resolvi falar (mal) dele no blog e ver o que ele acha. Independentemente do que ele achar será publicado na íntegra, pois gostei da brincadeira...Continuarei amanhã.
Mais uma do Aldemar - é esse o nome dele, se eu não me engano:  _"De onde vem seu nome"? Perguntou ele. Deve ser de Portugal, respondi. _ Não disse ele, veio de lá e foi pra cá, apontando o dedo de um lado para o outro. Tive que rir, mas não entendi absolutamente nada. Teve gente que riu também. Vai ver que o bobo sou eu.
Sabe aquelas pessoas que se esmeram, se esforçam, para serem simpáticas? Pois é, o cara é desse tipo, só que naturalmente.
Como eu já falei pessoalmente com ele que iria fazer uma crônica falando sobre ele, vou ter que modificar alguns itens para não pegar mal. Mas por enquanto fica assim mesmo. Quem sabe ele nuca vai ler ou mesmo esquecer que eu falei.
Parei de escrever, esse foi o tema que eu escolhi. Mas como se pode escrever sobre não escrever? Graças ao Aldemar, abriu-se mais uma vertente.
O Aldemar gostaria - ele me disse isso- de ver a tal crônica publicada no facebook para que todos vissem. Ele quer ser famoso um dia, quer visibilidade ( até parece que meu blog ou face teria). E quanto mais divulgação melhor. Então tá, falei pra ele, só que não vou usar o teu nome verdadeiro e se você quiser, muda e publica no teu 'face'. Cansei, fui!!!


Lição

"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade."

                            Carlos Drummond de Andrade

"Paradinha"

"Paradinha" é paradinha, é aquele lugar onde vc. deposita, escreve qualquer coisa, a qualquer hora. Um pouco diferente de "diário" ou desabafo.
Comecei hoje esse texto com o objetivo de passar o tempo, simplesmente. Vou escrever o que me passar pela cabeça. Caramba! Estou com a cabeça vazia, não me ocorre nada...
O que fazer, então? Não basta ficar de cara no monitor e dedo no teclado. Falta idéia.
Não era bem aqui que eu queria vir hoje, mas por falta de opção, vou ter que escrever alguma coisa. Como diz o ditado: "Sacou do punhal, tem que sangrar".
Estou vendo agora uma bela senhora conversando com uma jovem sobre problemas referentes a manutenção predial. Espero que elas se entendam. Voltarei aqui brevemente quando necessário. *De volta na paradinha para tentar resolver as questões existenciais que martelam a cabeça. São tantas que não dá nem para enumerar. Começou outubro ontem, já é quase o fim de ano e nada de melhor aconteceu; tá tudo na mesma. Tentei mudar de vida, mas o que eu fiz até agora acho que não foi o suficiente. Preciso encontrar uma maneira. Pois é, dia nove, já! Dia quente. Não sei porque eu resolvi escrever, é meio automático, bate um sentimento meio melancólico que me leva a escrever, nem que seja uma simples frase. (Vou procurar fazer outra coisa, navegar é preciso). Dia 18 hoje. Ontem foi o aniversário do meu irmão caçula (59). Eu, novamente com essa "crise" interminável, incompreensível, mas, pelo visto, necessária. Não sei como continuar escrevendo se não me ocorre nada! Queria eu ter a capacidade dos escritores de verter as ideias com tanta facilidade; de encantar as pessoas com palavras tão bem colocadas. Então, só me resta a simplicidade e a vontade de escrever o que eu sinto, livremente.

Muito Chato!

Minhas anotações hoje se resumem ao fato de não ter nada para escrever. Escrever é como falar, existe sempre uma demanda reprimida.
Quando se é solitário, fica-se muito tempo sem falar e quando aparece uma oportunidade, "fala-se pelos cotovelos".
E quando se fica muito tempo sem escrever? Escreve-se "adoidado", com a vantagem de não incomodar ninguém, pois escrever é um ato solitário que dispensa a presença de outrem.
Então, "sebo nas canelas", digo nos dedos.
Outra vantagem é não ter que alugar o ouvido de ninguém, pois lê quem quer.
A maioria dos meus textos eu costumo salvar, independentemente se presta ou não presta, que é pra eu poder depois, fazer uma crítica e uma avaliação do momento (estado) em que eu me encontrava. Isso tem funcionado direitinho e tem me ajudado a melhorar de vida.
Tempos atrás, eu estava num estado de insegurança muito grande, devido minha mudança de ambiente de trabalho, que gera uma certa ansiedade e consequentemente, sofrimento. Mas, antes disso, pela avaliação que eu faço dos meus 'scripts', eu estava sofrendo mais, de fato, com a insatisfação que o trabalho, ou melhor, certas pessoas e o meio ambiente do trabalho, me provocavam.
Superada essa fase, vem outra, embora ainda não esteja bem claro do que se trata. Pode ser uma crise ou até um momento de prosperidade e felicidade. Seja ela qual for, são necessárias e indispensável para o "crescimento" e fortalecimento de qualquer indivíduo.
Para terminar, vem a sentença na hora de salvar o texto: "Salvar como" ou "save as", que não deixa de ser angustiante, pois é nessa hora que se tem que dar título ou nome para o que se acabou de escrever. Muito chato, ora!
E agora? Agora é só começar que o resto vai na onda.
Mas não tem jeito, o problema está no começo. Ninguém quer iniciar nada. Ô povinho preguiçoso esse nosso! Iniciativa zero! Deve ser o calor ou o frio que não tempera.
Mas não vou ficar aqui procurando defeito ou justificativa para não ter o que fazer. Vontade até que eu tenho,  mas me esbarro um pouco na falta de vontade de quem realmente compete a INICIATIVA.
Covardia minha! Não tenho que esperar por ninguém. Tenho "que partir pra cima" e realizar o que eu achar melhor para todos.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Find out how the International Space Station's ammonia cooling system works in this SPACE.com infographic.
Source SPACE.com: All about our solar system, outer space and exploration

Skylab

Find out how the International Space Station's ammonia cooling system works in this SPACE.com infographic.
Source SPACE.com: All about our solar system, outer space and exploration

Smart Grid

O assunto do momento, como não poderia deixar de ser, é Smart Grid. Uma rede de distribuição de Energia Elétrica totalmente gerenciada e interligada desde a sua geração até o consumidor final, para que ela se torne mais eficiente e contribua para a racionalização e conservação da energia de um modo geral.
Grandes blocos de Energia Elétrica já migram constantemente seguindo o fluxo de carga produzido pelas demandas sazonais diárias - deslocamento do pico máximo de consumo devido aos fusos horários - entre grandes produtores e grandes consumidores interligados. Isso gera um mercado que já existe entre as grandes empresas, mas que deveria se estender até o pequeno consumidor que poderia também se tornar um pequeno produtor.

A diversificação em pequena escala da produção de Energia Elétrica usando fontes ‘renováveis’ locais como solar, eólica, gás (bio digestores), hídrica etc. integraria todos ao sistema através das Smart Grid.

"Transtorno Bipolar"

Se ser bipolar faz você escrever desse jeito tão eloquente, o que faz o bipolar sofrer, então?
Escrever é, de fato, uma válvula de escape?
Não queria importuna-la, mas fiquei vidrado em seus textos, com a fidelidade de seus pensamentos e ideias, a forma livre e sincera de expressar seus pensamentos.

E Agora José?

Para onde? Para onde se abrigar? Como pode estar acontecendo isso comigo? Cadê o carisma para atrair as pessoas para perto de mim? Porque tanta rejeição? Por mais que eu procure um motivo não encontro. Foram essas as palavras que me(lhe) vieram na cabeça quando lhe dispensaram. E os amigos. Como é difícil amar e ser amado!
Cadê a paixão, combustível que move a vida da gente? Qual é o mecanismo que desencadeia essa força? Onde buscar?
Cada dia que passa fica mais difícil lhe dar com essa situação. Chega a afetar o corpo essa falta de afeto. Afeto, isso mesmo! Falta de afeto.
A gente acha que com a maturidade as coisa melhoram, mas parece que não.

Acabei de ler um texto que me animou um pouco, então, resolvi colar aqui: http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/3321651.
A autora se diz afetada pelo "transtorno bipolar" e está em tratamento.
Mas achei ela uma pessoa muito interessante - como eu acho que deve ser  toda pessoa com transtornos psicóticos - desperta uma certa admiração.

terça-feira, 16 de abril de 2013

UFRJ PLURAL - Coordenadoria de Comunicação - UFRJ - www.plural.ufrj.br

Conexões perigosas: a vigilância oculta na grande rede
Coryntho Baldez

As grandes corporações privadas que atuam na internet, como Google e Facebook, não apenas usam o enorme volume de dados que possuem sobre os usuários como fonte de renda. Elas são capazes, hoje, de exercer um refinado controle ético e político sobre os indivíduos, de acordo com Marcos Dantas, professor titular da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ.
“Essas corporações detêm informações cotidianas sobre nossos hábitos e gostos, nível educacional, opção política e religiosa, que o próprio Estado não tem”, alerta Dantas, que ministra as disciplinas “Sistemas e Tecnologias de Comunicação” e “Economia Política da Comunicação”.
Nesta entrevista ao UFRJ Plural, o docente afirma ainda que cerca de 70% das comunicações da internet no mundo estão nas mãos de uma única empresa norte-americana: a Level Three. E, segundo ele, quem financia a construção da imensa infraestrutura física necessária para a internet funcionar – “o mundo virtual é mera ideologia” – é o capital financeiro.
Marcos Dantas não acredita que o movimento Cypherpunks, liderado por Julian Assange e que defende a criptografia como meio de preservar os direitos civis das pessoas e a soberania dos povos, seja uma solução para democratizar a internet. Para isso, em sua opinião, será preciso um amplo processo de mobilização política que coloque em xeque o poder das grandes corporações de controlar a rede. 
UFRJ Plural – Muitos dos que defendem e ajudam a construir uma internet livre, como Julian Assange, o criador do WikiLeaks, temem que ela se transforme em centro de vigilância dos cidadãos por parte de Estados imperiais. Qual a sua avaliação sobre isso?
Marcos Dantas – Acho que é uma preocupação importante, lúcida e necessária.  Mas, sob esse aspecto, também há controle da vida do cidadão por parte das grandes corporações capitalistas. Não é só o Estado que preocupa. Diria até que é menos o Estado que preocupa. Isto porque, se o Estado é democrático, ele também pode ser vigiado pelos cidadãos. As grandes corporações privadas não. As pessoas não sabem o que é feito com os seus dados. E as organizações privadas não somente controlam e fazem dessas informações uma fonte de muito dinheiro, mas também podem exercer um controle ético e político sobre os indivíduos. E, eventualmente, ser fonte de informação para o próprio Estado.
UFRJ Plural – A política de privacidade do Google tem sido alvo de várias críticas. No início deste mês, inclusive, alguns governos da Europa decidiram investigá-la mais a fundo. Por quê?
Marcos Dantas – Eles temem exatamente que corporações como o Google, o Facebook, a Microsoft e a Apple substituam o Estado no controle do cidadão. E passem a deter informações e orientar as práticas das pessoas em função dos interesses delas, e não dos interesses públicos. Essas corporações não são públicas e, hoje, são detentoras de enorme quantidade de informações cotidianas de todos nós, de hábitos e gostos, que o próprio Estado não possui. Elas têm informações até sobre a nossa saúde, o nosso nível educacional, as nossas opções políticas, religiosas, que o Estado não tem. Com isso, passam a ter o poder de orientar a vida dos cidadãos.
UFRJ Plural – Os usuários do Google e das redes de relacionamento, especialmente o Facebook, têm alguma ideia do uso de suas informações privadas para obtenção de lucro, à sua revelia?
Marcos Dantas – Nenhuma. Vou contar um caso pessoal que estou vivendo neste exato momento. Há alguns dias, comprei um smartphone mais moderno. E acabo de descobrir que, se eu quiser fazer uma transferência de um arquivo de números telefônicos que está no meu computador para o aparelho, tenho que jogá-lo numa nuvem controlada pela Microsoft. O atendente da loja afirmou que só é possível fazer essa transferência dessa maneira. Ora, não vou dar as minhas informações privadas e meus contatos para a Microsoft. Fui muito claro. Disse que não faço nada na nuvem. Eu vivo na Terra, e não nas nuvens. Então, não vou transferir meus dados para a Microsoft.
UFRJ Plural – Isso ocorre em qualquer sistema operacional?
Marcos Dantas – Comprei um com windows phone sistema operacional móvel, desenvolvido pela Microsoft, da marca Nokia. Mas com o sistema android acontece o mesmo. Quando alguém compra um smartphone, a primeira coisa que faz é se conectar à internet. Abrir um endereço no Google, se for android, ou então na Microsoft, se for o windows phone. A partir daí, toda transação que se fizer pelo smartphone, seja baixar um dado ou marcar uma agenda, vai passar pelos servidores de uma dessas duas corporações. Por exemplo, se eu marcasse no aparelho a agenda da entrevista que estamos realizando, ela ficaria reigistrada na Microsoft. Ou seja, o meu cotidiano é controlado. Quando as pessoas usam o smartphone para qualquer tipo de transação, não têm a menor consciência de que estão fazendo um trabalho de graça para essas empresas.É a mais-valia mais absoluta que existe no mundo, um trabalho gratuito para enriquecer o Bill Gates. E também um repasse de informações poderosas para que essas organizações possam controlar o mundo.
UFRJ Plural – Mas não há o risco de essas informações migrarem para Estados de caráter imperial para que se faça uma vigilância política sobre os cidadãos?
Marcos Dantas – Não tenho nenhuma dúvida de que, na história dos Estados Unidos, as grandes corporações, ao longo de todas as épocas, desde os tempos da famosa Standard Oil, sempre foram instrumentos da política imperial norte-americana. E vice-versa, ou seja, o Estado abria caminho para a expansão de suas grandes empresas. As novas corporações norte-americanas, como o Google e a Microsoft, se já não são, serão instrumentos do poder imperial, numa perfeita simbiose.
UFRJ Plural – Existem na rede iniciativas com potencial libertário, como o WikiLeaks, e também sites e blogueiros que fazem circular informações omitidas na mídia tradicional. Essas iniciativas ainda não são capazes de contrabalançar a influência que o grande capital exerce sobre a internet?
Marcos Dantas – Não, porque se baseiam em princípios, na minha avaliação, equivocados. Elas não colocam a crítica ao capital como fundamento das suas propostas. Se isso não acontecer, essas iniciativas permanecerão no plano do idealismo. Obviamente, permitem chamar a atenção e alertar a sociedade de que outro mundo é possível, o que é um aspecto positivo. Mas elas não colocam em questão o cerne do problema, o fato de que quem alimenta essa engrenagem são as relações capitalistas de produção e o capital.
UFRJ Plural – A Primavera Árabe é apontada como exemplo de que a internet também pode estar a serviço de movimentos democráticos de massa, de um novo modo de fazer política. Qual a sua avaliação sobre isso?
Marcos Dantas – Na verdade, superestimaram essas tecnologias. Elas foram usadas como meio de comunicação e, dessa forma, são extremamente eficientes. Em vez de eu pegar o telefone para convocar alguém para uma reunião, posso usar o Twitter ou o Facebook, e fazer isso com muito mais velocidade. Mas as grandes manifestações não são espontâneas. Vou dar um exemplo de uma época em que a internet não existia. Em 1968, mataram um estudante no Rio de Janeiro, o Edson Luís, e uma semana depois 100 mil pessoas estavam nas ruas protestando contra a ditadura militar. Mas esse fato foi apenas o estopim que gerou uma mobilização extraordinária. Antes já havia um processo de debate político acumulado entre jovens universitários, além de partidos políticos clandestinos atuantes. Se, por hipótese, os debates e reuniões que se faziam para discutir ações de resistência tivessem sido feitos em redes de amigos de Facebook, a polícia bateria em cima nos primeiros encontros.
Outro exemplo foi quando o Collor estava sofrendo o processo de impeachment e convocou o povo a usar verde e amarelo. Como já havia uma mobilização contra o governo, os brasileiros usaram o preto como forma de protesto, numa manifestação nacional que não precisou de Twitter ou Facebook para acontecer. E na Primavera Árabe um dos líderes das mobilizações no Egito era um executivo do Google. Isso já diz tudo.
UFRJ Plural – Pode-se considerar preocupante o fato de todas as comunicações via internet da América Latina para a Europa ou a Ásia passarem pelos Estados Unidos?
Marcos Dantas – Pior do que isso. Cerca de 70% das comunicações da internet no mundo estão nas mãos de uma única empresa norte-americana, chamada Level Three.
UFRJ Plural – E como isso funciona?
Marcos Dantas – A rigor, para que a internet funcione, é preciso uma imensa estrutura física. O mundo virtual é mera ideologia. São necessários cabos, satélites, torres, servidores espalhados pelo mundo. É uma estrutura caríssima. Fazer um blog é barato, basta dispor de tempo, mas não seria possível sem essa estrutura física, que requer bilhões de dólares de capital. Como ela é muito cara, poucas organizações no mundo podem fazer os investimentos necessários para construí-la e operá-la. Ou o Estado constrói esse tipo de estrutura, e hoje em dia ele não faz mais isso, ou grandes corporações financeiras o fazem. E é exatamente o capital financeiro que está por trás da Level Three, da AT&T, da British Telecom ou da Telefônica. Basicamente, as estruturas de comunicação servem ao capital financeiro nas transferências de fundos ao redor dos mercados mundiais.
UFRJ Plural – Essas redes passam, então, pelo centro de poder do capital financeiro?
Marcos Dantas – Sim, e obviamente pelos centros de poder militar também. Como acontece desde o tempo da telegrafia, essa infraestrutura tem sempre, acima do Equador, uma direção horizontal, ou seja, Estados Unidos, Europa e, cada vez mais, o Japão. E no sul tem uma direção sul-norte, da América do Sul para os Estados Unidos e para a Europa. Então, é claro que, se houver uma série crise internacional, essa configuração pode pesar na balança. Se o Brasil quiser fazer hoje uma comunicação com a África, terá que, necessariamente, passar pela Europa.
UFRJ Plural – Julian Assange afirma que a China está oferecendo a alguns países da África a construção de infraestrutura de backbones de acesso à internet em troca de grandes contratos comerciais. E aponta isso como a possibilidade de se configurar um novo colonialismo no século XXI. Como você avalia essa questão?
Marcos Dantas – Da mesma maneira que, no século XIX, os ingleses construíram ferrovias no Brasil e na Argentina. No Brasil, em São Paulo, para escoar café. E na Argentina, em Buenos Aires, para escoar carne. Na Índia, construíram uma malha ferroviária importante porque precisavam dela para movimentar o seu exército, porque lá a briga era dura. Portanto, os meios de comunicação sempre foram instrumentos fundamentais na geopolítica do poder. E a China está hoje construindo uma alternativa de poder geopolítico aos Estados Unidos, olhando os seus interesses muito bem olhados. Está sabendo por onde pode se expandir, e com muita inteligência.
UFRJ Plural – Por quê?
Marcos Dantas – Porque a África é um continente que foi completamente abandonado pelo Ocidente, depois de ter sido espoliada até dizer chega. É um estorvo para o grande capital o que fazer com aquela região. Quando eles estão se matando em alguma guerra e os humanistas pedem intervenção para evitar um genocídio, qual é a reação do grande capital e de seus governos? Deixa se matarem! É o que acontece a todo instante nos mais variados lugares da África. Só intervieram no Mali porque lá tem urânio, matéria-prima que interessa à França porque 70% da energia do país é nuclear. Então, a China, com a velha estratégia de avançar pelo elo mais fraco, está se expandindo na África a fim de construir cabeças de ponte para um projeto estratégico de longo prazo.
UFRJ Plural – um controle subterrâneo, invisível, da grande rede. Mas existem tentativas de oficializar o controle do próprio conteúdo produzido na internet. É o caso de duas legislações que estavam sendo discutidas no Congresso norte-americano, a Sopa (Lei de Combate à Pirataria On-line) e a Pipa (Lei de Prevenção a Ameaças On-line à Criatividade Econômica e ao Roubo da Propriedade Intelectual). Por que essas iniciativas ainda não vingaram?
Marcos Dantas – Em que pese meus amigos ciberativistas acharem que tem a ver com a luta deles, que eu compartilho e considero importante, a razão é outra. O fato é que o grande capital ainda não entrou em acordo sobre como fazer essa regulamentação. E a Sopa evidenciou isso muito bem. De um lado estava Hollywood e, do outro, o Google. Faltam ainda determinados acertos políticos e jurídicos entre as grandes corporações capitalistas para essas legislações vingarem.
UFRJ Plural – E que divergências são essas?
Marcos Dantas – A questão mais importante para o capital hoje não é a terra, mas o direito intelectual. É a patente, a marca, o direito autoral. O capital, hoje, se move em cima de um tipo de valor que não é mercadoria, ou seja, não é algo apropriável e cambiável. Quando o padeiro vende meia dúzia de pães, a cesta dele ficou com menos seis unidades de pães. E o caixa do padeiro aumentou com o dinheiro usado para comprar os pães, fruto do trabalho da pessoa que os adquiriu. Tem-se aí uma troca real, uma troca de equivalentes. Quando a indústria cinematográfica coloca um filme no mercado, não fica com menos filmes na sua estante. Há uma capacidade infinita de reproduzi-lo. Aqui não há troca, mas um licenciamento. Então, é preciso criar regimes para assegurar que aquelas pessoas que vejam o filme não possam replicá-lo a custo zero. Esse regime, em princípio, é o reconhecimento do direito autoral.
UFRJ Plural – E para garanti-lo é necessária uma série de controles?
Marcos Dantas – Sim. Como o reconhecimento do direito autoral, em si, não assegura que as pessoas não “pirateiem”, criam-se estruturas físicas para isso, como o DRM [dispositivo para restringir a difusão e duplicação de cópias de conteúdos digitais]. Outro tipo de controle é o acesso a conteúdo por meio de pagamento, como é o caso de TVs por assinatura ou dos novos sistemas de smartphones. São estruturas criadas para garantir que as pessoas somente tenham acesso a uma música ou a um filme se tiverem um determinado terminal conectado a uma rede paga. Esse tipo de comercialização em que se baseia a rentabilidade de Hollywood e outras indústrias culturais ainda não conseguiu se adequar, por inteiro, ao outro modelo de negócios que vem sendo proposto pelo Google, pela Apple, enfim, pelas empresas que já nasceram no sistema reticular, ou seja, no sistema em rede.
UFRJ Plural – Fale mais sobre esse novo modelo.
Marcos Dantas – A rentabilidade desse modelo de negócios que o Google vem tentando construir está totalmente calcada na informação e na negociação dessa informação. É um modelo que defende a liberação das práticas sociais, ou seja, as pessoas podem fazer o que bem entenderem na rede. Mas, como falamos no início, toda essa movimentação está sendo monitorada, manipulada, tratada por algoritmos poderosos, com o objetivo de vender informação.
UFRJ Plural – E essas legislações que preveem o bloqueio de sites acusados de desrespeitar o direito autoral podem ir contra esse modelo?
Marcos Dantas – Exatamente isso. O Google está propondo uma alternativa. Vou dar um exemplo. Se todo mundo vai ter um smartphone, ele deve estar ligado a uma loja, seja iTunes, Nokia ou Samsung. Da mesma forma, o tocador Blu-ray também deve estar ligado a uma loja. No momento em que todo mundo estiver na rede, aí será possível construir esse pacto.
UFRJ Plural – O movimento Cypherpunks defende a criptografia como forma de preservar os direitos civis das pessoas e também a soberania e a autodeterminação dos povos. Como você avalia essa proposta?
Marcos Dantas – Pode ser uma alternativa interessante, mas, como já ensinava Norbert Wiener, código é uma questão de tempo para quebrar. Primeiro, é algo que exige um investimento técnico, uma organização que trabalhe a criptografia. Os grandes Estados nacionais trabalham com isso, em função de interesses estratégicos. Mas os Estados Unidos, neste momento, demonstram grande preocupação porque dizem que estão sofrendo ataques de ciberinvasores. E dificilmente haverá um país mais criptografado do que os Estados Unidos. Então, não sei se essa é a questão.
UFRJ Plural – E qual é a questão?
Marcos Dantas – Acho que deveríamos passar por um processo político que colocasse em questão o poder das grandes corporações de controlar a grande rede e, a partir daí, controlar a vida dos cidadãos.