quarta-feira, 22 de julho de 2009

O lendário guerreiro

Ajuricaba foi protagonista de episódios épicos da guerra entre portugueses e indígenas Manáu, aguerrida nação aruaque que criou uma confederação de povos do Rio Negro para resistir por oito anos à ocupação lusitana nesta região. Em 1728, contudo, foi derrotado por uma poderosa força militar, vindo a cair prisioneiro e, quando era transportado para Belém onde seria vendido como escravo, atirou-se agrilhoado às águas da baía do Rio Negro, em frente ao forte de São José da Barra, que deu origem à cidade de Manaus.

Ajuricaba, cujo nome vem das palavras ajuri (ajuntamento) e caba (caba, marimbondo), ou seja, "ajuntamento de cabas", ou melhor, "ninho de cabas", é bom ressaltar que ele é considerado um dos precursores da luta pela liberdade indígena brasileira, que viraram lenda ao lado de Poti, Sepé, Araribóia, Tibiriçá, Viniambebe, Itagibe e Jaguari. Para mensurar a grandeza desse herói amazônico e as circunstâncias que o cercavam na época do levante Manáu, vale ainda fazer cruzamento entre a história, a antropologia e o imaginário que lhe deram destaque no cenário das nativistas.

Ele foi tuxaua e líder de uma das maiores guerras indígenas de resistência na Amazônia, acontecida no século XVIII. Para a historiadora e folclorista Rosane Volpatto, nosso herói "foi um dos chefes indígenas que conseguiram impor-se aos civilizados pelas suas qualidades de bravura, tenacidade e, sobretudo, de inteligência. Após a chegada do homem branco, o povo indígena procurou novas paragens para viver liberto ou teve de se moldar ao cativeiro imposto pelas circunstâncias. As povoações que surgiram logo depois da chegada dos lusos foram, inicialmente, habitadas por silvícolas que, presos ao torrão em que viviam, se transformaram em indivíduos sem vontade, sem razão, sem ideais, verdadeiras feras domesticadas que ao estalar do chicote faziam tudo qeu lhe ordenava o domador".

Na época, uma das principais estratégias dos portugueses para ocupar a Amazônia e dominar as nações indígenas era deslocar as populações nativas para determinadas localidades chamadas "descimentos", onde ficavam confinadas e tornava a catequese mais fácil e propícia para a utilização de sua mão-de-obra (escrava). Esses deslocamentos, contudo, na absoluta maioria das vezes eram compulsórios, contra a vontade dos indígenas, que não aceitavam abandonar seu habitat nem se submeter a trabalhos forçados, inclusive trocar sua fé pela dos cristãos, pregada principalmente pelos religiosos da Companhia de Jesus.

O uso da intimidação compulsória também provocava resposta violenta dos indígenas, em especial dos aguerridos índios Manáu, que habitavam onde hoje fica as cidades de Manaus e Manacapuru, no Amazonas. Ajuricaba, com sua excepcional capacidade de liderança, conseguiu congregar diversas tribos locais para barrar o domínio dos portugueses sobre aquela região. Ele organizou uma rigorosa vigilância que dificultava o acesso dos lusitanos pelos rios e lagos, do baixo rio Negro ao rio Branco, prolongando a guerra por oito anos, quando toda a região foi governada pelo valoroso cacique, exceto Manaus, que ficou sob o poder de soldados portugueses.

As enormes distâncias entre a área do conflito e o centralismo de Lisboa, que controlava o Governo do Grão-Pará, em cuja jurisdição estava a Capitania do Rio Negro, dificultavam respostas imediatas contra o guerreiro Ajuricaba, que soube explorar essa deficiência. mas Belém reagiu e finalmente conseguiu organizar uma grande investida contra a confederação dos índios do rio Negro, incendiando 300 malocas e matando 15 mil nativos, incluíndo velhos, mulheres e crianças, além da capitulação e morte do famoso chefe Manáu (História Geral do Amazonas, p. 41).

O historiador Arthur César Ferreira Reis assim descreve o evento heróico: "A lenda informa que houve choque violento. De parte a parte, muito heroísmo. Os portugueses, à certa altura, depois de batidos em quatro investidas, já principiavam a desanimar, quando alguns soldados, completando o cerco, atacaram o Ajuricaba pela retaguarda, conseguindo vencê-lo. Adianta a lenda que, nessa refrega, perdendo o filho, tão bravo quanto ele, o jovem Cucunaça, lança-se entre os inimigos inflingindo-lhes várias perdas, sendo afinal preso e posto a ferro. Transportado para belém, depois de ser procedida nova devassa, onde se amontoaram várias provas para o líbelo acusatório ao grande guerreiro, em caminho, antes de chegar à embocadura do rio Negro, tentou libertar-se e aos companheiros. Sublevou, mesmo em grilhões, a gentilidade das embarcações, ameaçando seriamente a tropa de Paes do Amaral e Belchior. Dominado o levante, depois de muito sangue vertido, para não se sujeitar às hummilhações do inimigo ufano da vitória, lança-se com outro principal às águas do oceano fluvial que tanto amava, perecendo afogado, com grande satisfação dos conquistadores, livres de vez das preocupações de tê-lo sob a mais rigorosa vigilância até Belém, confessou o governador Maia da Gama (História do Amazonas, p.82)." Acrescenta o historiador que foram levados a ferros para Belém mais de dois mil indígenas, sendo encarcerados ou vendidos como escravos.

Em prosa poética, Rosane Volpatto diz que "às vezes, no terreno de aluvião, sujo e lodoso, se encontram ouro e gemas preciosas e, também, em meio ao sofrimento, dor e pavor, surgem gênios, pessoas raras. Aqui em nossa terraexistiu um destes seres iluminados por um espírito guerreiro, que combateu com ardor e muita impetuosidade a hostilidade do pretenso civilizador. Ajuricaba não nasceu para o cativeiro. Nasceu com a mata interminável à sua disposição para nela expandir a sua ânsia de viver livremente".

Mais adiante, a folclorista descreve que, apesar da diferença de armamento, Ajuricaba resistiu dando exemplos seguidos de audácia e valor, quando finalmente caiu lutando, levado prisioneiro para bordo de uma nau lusitana, onde ainda consegue amotinar os presos que a custo foram subjugados. "Como se pudessem algemar a idéia que o dominava, amarram-lhe aos pés pesadas bolas de ferro com grossas correntes. Todavia, como Ajuricaba não nasceu para ser cativo, numa manhã consegue arrastar-se até a borda do navio e, explodindo de alegria, atira-se às águas espelhadas do rio com seus pesados grilhões, libertando-se para sempre... Hoje o povo indígena amazonense ainda aguarda outro libertador que o livre da agonia que o sufoca", finaliza Rosane Volpatto.

O fim de Ajuricaba tem sido cantado em prosa e verso, encenado como ópera nativista na memória do amazônida, nos levando a refletir sobre a história e destino da nossa região, ainda explorada e cativa da cobiça internacional. Antes, o rio Negro foi visitado pelo norte e pelo sul por ávidos europeus, através do Orinoco e do Amazonas, à caça da cidade dourada de Manoa, cenário da lenda criada pela imaginação opulenta dos conquistadores do rico Império Inca. À medida que as explorações avançavam, a conquista da terra se consolidava, malocas inteiras de índios iam sumindo para dar lugar a povoações colonas que surgiam como balizas de futuras invasões "civilizadas". Nada se antepôs á onda branca a não ser as heróicas tentativas de Ajuricaba, que conseguiu unir valentes etnias Aruaques numa confederação indígena do rio Negro para enfrentar em ousada guerrilha o poderio lusitano, pagando esta ousadia com a vida de milhares de guerreiros, velhos, mulheres e crianças. Muitos, contudo, tornavam-se voluntariamente cativos, servindo, às vezes, de guias à caça de seus próprios irmãos.

Fonte: Revista Amazon View

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Quinze de Julho

Dia chuvoso e frio!
Mês que vem vai ser pior!?
Agosto, mês das superstições, do mau agouro. Vou "pular" esse mês.
See you in September.
Calma! Ainda faltam quinze dias e os trinta e um seguintes serão breves.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Voo (livre)

Aquela velha história: Uma folha de papel em branco e uma caneta na mão e uma ideia na cabeça. E agora, o que falta? Vontade? Talento?
O analfabeto talvez dobrasse o papel feito um aviãozinho, desse algumas rabicadas com a caneta para estilizar o "bichinho" e... Vupt, o lançaria no ar e se deliciaria com sua leveza e liberdade.
E eu aqui, que não sou nem letrado nem analfabeto, fico tentando, não com um papel e uma caneta, mas com um teclado e um monitor, sentir o mesmo prazer da liberdade. As vezes consigo.
Escrever é preciso!