terça-feira, 26 de outubro de 2010

A tirania da felicidade

“Eu li, tá fora de moda/ É falta de educação/ É proibido sofrer/ Os dias são
de euforia/ A felicidade é uma obrigação”. Os versos da música
“É proibido sofrer”, do cantor carioca Leoni, evidenciam um fenômeno contemporâneo que vem chamando a atenção de pesquisadores e acadêmicos: o imperativo da felicidade.


Esse conceito expressa que, mais do que nunca, ser feliz é um direito de todos e compromisso moral de cada indivíduo. Segundo essa definição, a felicidade deixou de ser um estado de exceção; não mais está atrelada à sorte, ao destino ou à vontade de deuses. Passou a depender apenas do esforço de cada um em gerir suas emoções e pensamentos contra o sofrimento. “Se um indivíduo sofre, a culpa é dele por não saber agenciar sua própria alegria. Ele é obrigado a aparentar entusiasmo e alardear uma personalidade extrovertida. Não há espaço para enunciar o sofrimento”, destaca João Freire Filho, professor da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ e organizador do seminário “Ser feliz hoje”, que, nos dias 25 e 26
de agosto, debateu o imperativo da felicidade.
Ela é incentivada em anúncios publicitários, na literatura de autoajuda, em trabalhos acadêmicos e políticas governamentais. Já se cogita até mesmo utilizar a felicidade como um dos mecanismos de medição do desenvolvimento de um país. Criado em 1972, no Butão, território do Himalaia, o conceito da Felicidade Interna Bruta (FIB), que vem ganhando adeptos em todo o mundo, calcula a riqueza de uma nação a partir de fatores como bem-estar social, qualidade de vida e sustentabilidade ambiental, e não apenas com base em aspectos econômicos.
No Brasil, o assunto também anda em alta. Tanto é que, em julho, foi protocolada, no Senado, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Felicidade. Apresentada pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF), a PEC pretende alterar o artigo 6º da Constituição, que trata dos direitos sociais da população. O objetivo é incluir a felicidade entre as garantias asseguradas pelo texto. A campanha em favor do projeto, intitulada “Movimento + Feliz”, arregimentou artistas e contou com a adesão de grandes empresas dos setores industrial, comercial e de serviços.
Outro dado comprovador do espaço que a busca pela felicidade ocupa na vida contemporânea é o bom êxito de livros de autoajuda. São inúmeros os títulos que funcionam como verdadeiros manuais para a obtenção da alegria plena. Somente nos Estados Unidos da América (EUA), esse tipo de literatura movimenta cerca de 580 milhões de dólares por ano. “A Psicologia Positiva, nascida na virada do século XX para o XXI, representa bem o dever moral de ser feliz. Ela valoriza os pontos fortes do ser humano, com a meta de fazer as pessoas não pararem de se sentir contentes. Não faço apologia à melancolia, mas esse imperativo da felicidade traz problemas para
aqueles que não conseguem dar conta da tarefa de ser feliz. Além disso, ele patologiza determinados comportamentos, como a timidez, por exemplo, e impede outras possibilidades de existência”, pontua João Freire, que também é organizador do livro Ser feliz hoje: reflexões sobre o imperativo da felicidade (Editora FGV, 2010), lançado no evento “Ser feliz”.

Felicidade: um projeto atual
O conceito de felicidade foi se modificando ao longo do tempo. Na Antiguidade, ser feliz significava ausência de dor, prazer e satisfação. Com o Cristianismo, a felicidade ideal tornou-se um objetivo a ser alcançado apenas em outro plano. No Iluminismo, entretanto, o panorama se altera: “O discurso iluminista trouxe à tona a ideia de que era possível promover a felicidade ampla, geral e irrestrita. Ela passa a ser um bem que deriva do fato de ‘sermos todos iguais’. A noção de igualdade como condição prévia para a cidadania é o que agencia o imperativo da felicidade”, explica Joel Birman, psiquiatra do Instituto de Psicologia (IP) da UFRJ e palestrante do seminário “Ser feliz hoje”.
Nesse contexto, como é possível gerir os conflitos gerados entre projetos individuais de felicidade e aqueles mais amplos, que visam ao bem-estar social? Esse é o principal questionamento de Gilberto Velho, antropólogo do Museu Nacional (MN) da UFRJ. “O crucial é entender se os projetos individuais dialogam ou respeitam as questões de responsabilidade social. Projetos de natureza distinta são, muitas vezes, alvo de conflitos de interesse. Até que ponto o Estado e o poder público podem mediálos, dado que a sociedade é desigual e marcada pela forte aspiração de ascensão social?”, questiona o professor.

Ser feliz é...
“Eu quero morrer... Só isso que tenho a dizer. (...) Preciso emagrecer. Preciso me livrar dessas banhas nojentas que me fazem ser um ser inferior.” Para a adolescente que escreveu esse desabafo em um dos mais famosos blogs próanorexia da Internet, ser feliz é estar magra. Assim como ela, entre 10% e 15% da população feminina mundial apresentam algum grau de distúrbio alimentar. A busca pelo corpo perfeito é, na opinião de Maria Paula Sibilia, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista em Tecnologias Digitais, Imagens e Práticas Corporais, um dos projetos mais evidentes da felicidade contemporânea.
A pesquisadora destaca que a obsessão pela boa forma física produz o desprezo pelos processos naturais de envelhecimento do corpo. “As pessoas querem encarnar a perfeição, é como se o corpo fosse uma imagem a ser depurada. As imperfeições, entretanto, são inerentes ao ser humano. A corrida pelo físico ideal se tornou o centro da vida de muitos indivíduos. Para eles, o mero fato de viver já é uma desvantagem, visto que a ordem natural da vida é o desgaste e a degeneração do próprio corpo”, explica a professora do Instituto de Artes e Comunicação Social da UFF.
A consequência do culto aos estereótipos de beleza é, de acordo com Maria Paula, sombria. O corpo passa a ser fonte de desgostos e inquietações. Explodem, então, casos de depressão, anorexia, bulimia e outros distúrbios, que vão de encontro, em última instância, à premissa da felicidade. “Os sujeitos contemporâneos acreditam, sobretudo, no valor da imagem – tanto a do espelho como a do olhar alheio. Nesse contexto, o corpo sofre e é punido. Não basta consumir, olhar os corpos perfeitos; devemos imitá-los. O indivíduo vira um campo de batalha”, alerta Sibilia, autora, entre outros, de O show do eu: a intimidade como espetáculo (Nova Fronteira, 2008).
A mídia e o mundo das celebridades veiculado por ela acabam por contribuir com a criação de modelos ideais de beleza e de vida. Vera Regina Veiga França, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) presente ao seminário “Ser feliz hoje”, lembra que heróis e famosos, desde os gladiadores romanos até as sociedades de corte, sempre exerceram fascínio sobre os anônimos. A diferença é que, atualmente, as celebridades são mais próximas e descartáveis. “As estrelas de hoje suscitam, além de admiração, nosso olhar crítico. Frequentemente vemos que nossos ídolos têm pés de barro. O jogador Ronaldo, por exemplo, faz um casamento em um palácio que se transforma em ‘barraco’. Vera Fisher tem problemas com drogas e nem todas as suas plásticas foram bem-sucedidas. Ou seja, apesar de serem referências de felicidade, as estrelas têm falhas e defeitos, e isso nos tranquiliza”, observa a especialista em Processos Interativos Midiáticos.

O efeito “soma”
Em sua obra mais conhecida, o livro Admirável Mundo Novo, escrito na década de 1930, o autor inglês Aldous Huxley narrou um hipotético futuro em que as pessoas recorriam a uma droga para fugirem de seus problemas e, assim, preservarem a ordem dominante vigente. O “soma” era fornecido para os trabalhadores suportarem os serviços pesados e utilizado pelas classes superiores como meio de obter diversão e felicidade.
O cenário futurista de Huxley não se concretizou, mas as drogas são, hoje, um importante mecanismo de fuga da realidade e obtenção de prazer imediato. “Há um culto às drogas em nossa sociedade. Tanto as ilegais como aquelas receitadas por psiquiatras são voltadas para melhorar a autonomia da performance social do indivíduo”, opina Joel Birman, do IP-UFRJ, complementando que a depressão e a síndrome do pânico são dois transtornos típicos da frustração gerada pelo fracasso diante da imposição de ser feliz.
Medicamentos recomendados para pacientes com narcolepsia são ingeridos por caminhoneiros, médicos plantonistas e pilotos de avião para se manterem acordados
por mais tempo. Jovens fazem uso de antidepressivos e calmantes para deixarem a inibição e o estresse de lado. Para Benílton Carlos Bezerra Jr., professor do Instituto de Medicina Social (IMS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), esses exemplos comprovam que a droga deixou de ser um alívio para doenças e passou a funcionar como trampolim para o bem-estar individual. “A indústria dos psicofármacos introduziu a ideia de que a regulação biológica da experiência subjetiva é desejável. Até pouco tempo, tomar remédio era sinônimo de debilidade
psicológica. Hoje, negá-lo é visto com maus olhos. Com o imperativo da felicidade, até a Psiquiatria adquiriu a função de promover satisfação, alegria e felicidade”, conclui o especialista em Saúde Coletiva.

Por: Aline Durães, extraído do Jornal da UFRJ, n°56, Setembro/Outubro de 2010.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

METRALHADORA GIRATÓRIA

Metralhadora giratória - essa é a segunda vez que eu me deparo com ela - é a forma que eu vejo as coisa quando eu não estou muito bem, ou seja: Fico querendo atirar palavras em todas as direções como uma forma de defesa ou de me manter vivo, de sentir um certo alívio e uma sensação de liberdade. Faz
sentido? Não sei, mas é uma maneira de tentar aliviar uma certa angústia que
eu sinto de vez em quando.
Cá estou eu de volta alguma coisa me puxou. Ao mesmo tempo que puxa, trava. Estou tentando encontrar um modelo matemático que possa explicar esses
repentes. Um dia encontro.
Quando eu começava a dedilhar este segundo parágrafo, ela entrou, me
cumprimentou e comentou um detalhe técnico, como quem me convida para
participar. Não tenho outra alternativa a não ser parar e ir ao seu
encontro.(vou ter que datar para poder fazer a análise matemática). Fui!!!
Dia seguinte (virou narrativa) - 05/10/2010.
Cadê ela? Não está aqui. Mas é só eu começar a escrever que ela aparece. Não
sei se é bom ou ruim.
Mas não é sobre isso que eu estou querendo falar, mas o pensamento atrapalha.
O problema é que às vezes estou com a "metralhadora" na mão mas sem munição.
Fazendo uma auto análise, cheguei a conclusão que a minha tendência é para
escrever narrativamente com pouca descrição e detalhes físicos. Se bem, que
este texto é livre, como eu eu gosto, sem regras, onde o pensamento flui.
O texto intitulado "O Poder da Escrita", esse sim deve ser bem elaborado,
dentro das regras. Então vou ficar com os dois. Ora escrevo aqui (livre), ora
escrevo lá (regra). Vou publicar essa "paradinha" no meu blog. (viadagem!).

Acabei de deixar pra lá outro texto que eu estou escrevendo - "Primeira Tentativa" se eu não me engano. Ele tava ficando muito chato. Dizem que escrever é uma atividade solitária, mas eu acho que os escritores não são. Pode ser que o isolamento seja importante mas a solidão não.
13/10/10, hoje, se meu pai estivesse vivo, estaria fazendo 98 anos. Quem dera! Saudades! Se não fosse ele, o que seria de mim? Deixa pra lá. Senti um pouco de egoísmo da parte dela ou medo de perder o livro? Hoje ela não me deu a mínima bola, nem sequer olhou nos meus olhos. Eu que passei o feriadão todo pensando nela!
O babaca do meu amigo, gente boa, acabou de meter a cara aqui pra ver o que eu estava escrevendo. Deixa pra lá, vou cuidar de outra coisa porque daqui a pouco vou ter que ir embora mesmo.
Dia seguinte: Estava eu lendo minhas mensagens quando me deparei com vários textos escrito por um primo meu e percebi o quanto é importante conhecermos o nosso leitor. Ele conhece, então fica fácil. Eu ainda não identifiquei o meu. Acho que eu escrevo pra mim mesmo, mas gostaria de ter um leitor(a).Quiçá!
Eu não sei...mas esta "paradinha" tá ficado mesmo com cara de diário de mocinha. Tenho que dar um toque de macho nesta merda: Pronto! Já dei uma cusparada no chão, limpei o ouvido com a chave de fenda, as unhas com o facão, enfiei o dedo no nariz e uma mão no saco. Agora só falta traduzir isso tudo em poesia. Mas não adianta, poesia só rima com florzinha.