terça-feira, 29 de maio de 2012

OS INDIOS DO SÉCULO XXI

OS INDIOS DO SÉCULO XXI José Ribamar Bessa Freire 27/05/2012 - Diário do Amazonas "Índio quer tecnologia" - berra O Globo, em chamada de primeira página (25/05). Lá está a foto de um guerreiro Kamayurá, que usa um iPhone para fotografar o terreno da Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, onde será construída a aldeia Kari-Oca que vai sediar eventos paralelos da Conferência Rio + 20. Ele viajou de barco e de ônibus, durante três dias, com mais vinte índios do Alto Xingu, de quatro nações diferentes. Chegaram na última quinta-feira, para construir a aldeia Kari-Oca. Na aldeia que eles vão construir formada por cinco ocas - uma delas será uma oca eletrônica hight tech - mais de 400 índios que vivem no Brasil, discutirão com índios dos Estados Unidos, Bolívia, Peru, Canadá, Nicarágua e representantes de outros países temas como código florestal, demarcação de terras, reservas minerais, crédito de carbono, clima, usinas hidrelétricas, saberes tradicionais, direitos culturais e linguísticos. No final, produzirão um documento que será entregue à ONU no dia 17 de junho. Embora a notícia contenha informações jornalísticas, O Globo insiste em folclorizar a figura do índio. Em pleno século XXI, o jornal estranha que índios usem iPhone, como se isso fosse algo inusitado. Desta forma, congela as culturas indígenas e reforça o preconceito que enfiaram na cabeça da maioria dos brasileiros de que essas culturas não podem mudar e se mudam deixam de ser "autênticas". A imagem do índio "autêntico" reforçada pela escola e pela mídia é a do índio nu ou de tanga, no meio da floresta, de arco e flecha, tal como foi visto por Pedro Alvares Cabral e descrito por Pero Vaz de Caminha, em 1.500. Essa imagem ficou congelada por mais de cinco séculos. Qualquer mudança nela provoca estranhamento. Quando o índio não se enquadra nesta representação que dele se faz, surge logo reação como a esboçada pela pecuarista Katia Abreu, senadora pelo Tocantins (PSD, ex-DEM): "Não são mais índios". Ela, que batizou seus três filhos com os nomes de Irajá, Iratã e Iana, acha que o "índio de verdade" é o "índio de papel", da carta do Caminha, que viveu no passado, e não o "índio de carne e osso" que convive conosco, que está hoje no meio de nós. Na realidade, trata-se de uma manobra interesseira. Destitui-se o índio de sua identidade com o objetivo de liberar as terras indígenas para o agronegócio. Já que a Constituição de 1988 garante aos índios o usufruto de suas terras - que são consideradas juridicamente propriedades da União - a forma de se apoderar delas é justamente negando-se a identidade indígena aos que hoje as ocupam. Se são ex-índios, então não têm direito à terra. Criou-se, através dessa manobra, uma nova categoria até então desconhecida pela etnologia: a dos "ex-índios". Uma categoria tão absurda como se os índios tivessem congelado a imagem do português do século XVI, e considerassem o escritor José Saramago ou o jogador Cristiano Ronaldo como "ex-portugueses", porque eles não se vestem da mesma forma que Cabral, não falam e nem escrevem como Caminha. O cotidiano de qualquer cidadão no planeta está marcado por elementos tecnológicos emprestados de outras culturas. A calça jeans ou o paletó e gravata que vestimos não foram inventados por brasileiro. A mesa e a cadeira na qual sentamos são móveis projetados na Mesopotâmia, no século VII a. C., daí passaram pelo Mediterrâneo onde sofreram modificações antes de chegarem a Portugal, que os trouxe para o Brasil. A máquina fotográfica, a impressora, o computador, o telefone, a televisão, a energia elétrica, a água encanada, a construção de prédios com cimento e tijolo, toda a parafernália que faz parte do cotidiano de um jornal brasileiro como O Globo - nada disso tem suas raízes em solo brasileiro. No entanto, a identidade brasileira não é negada por causa disso. Assim, não se concede às culturas indígenas aquilo que se reivindica para si próprio: o direito de transitar por outras culturas e trocar com elas. Foi o escritor mexicano Octávio Paz que escreveu com muita propriedade que "as civilizações não são fortalezas, mas encruzilhadas". Ninguém vive isolado, fechado entre muros. Historicamente, os povos em contato se influenciam mutuamente no campo da arte, da técnica, da ciência, da língua. Tudo aquilo que alguém produz de belo e de inteligente em uma cultura merece ser usufruído em qualquer parte do planeta. Setores da mídia ainda acham que "índio quer apito". Daí o assombro do Globo, com o uso do iPhone pelos Kamayurá, equivalente ao dos americanos e japoneses se anunciassem como algo inusitado o uso que fazemos do computador ou da televisão: "Brasileiro quer tecnologia". O jornal carioca, de circulação nacional, perdeu uma oportunidade singular de entrevistar integrantes do grupo do Alto Xingu, como Araku Aweti, 52 anos, ou Paulo Alrria Kamayurá, 42 anos, sobre as técnicas de construção das ocas. Eles são verdadeiros arquitetos e poderiam demonstrar que "índio tem tecnologia". O antropólogo Darell Posey, que trabalhou com os Kayapó, escreveu: “Se o conhecimento do índio for levado a sério pela ciência moderna e incorporado aos programas de pesquisa e desenvolvimento, os índios serão valorizados pelo que são: povos engenhosos, inteligentes e práticos, que sobreviveram com sucesso por milhares de anos na Amazônia. Essa posição cria uma “ponte ideológica” entre culturas, que poderia permitir a participação dos povos indígenas, com o respeito e a estima que merecem, na construção de um Brasil moderno”. Esses são os índios do século XXI. A mídia olha para eles, mas parece que não os vê.

Virei Burocrata!

Saudades da física e dos físicos, parei de pensar. Por um período que eu ainda não sei quanto tempo vai levar, mas que espero seja breve, vou me dedicar ao trabalho mais braçal e burocrático, diria assim. Mas antes preciso resgatar meus direitos que preservam minha saúde laboral. Não sei ainda por onde começar, falta ainda uma identificação maior das necessidades.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimemto Sustentável

Começa mês que vem a conferência da ONU, Rio+20 em continuidade a Rio 92. Na época a Rio 92, ou Eco 92, reuniu mais de uma centena de chefes de estado na "feira de exposições" do Riocentro, para discutirem o futuro do planeta quanto a sua sustentabilidade. Presidida pelo canadense Maurice Strong foi acordado diversos protocolos, dentre os quais o Protocolo de Kyoto e a Agenda 21. Hoje, pouco se avançou e é notório que estamos perdendo tempo, pois os ecossistemas tem uma inércia muito grande e leva tempo para que a "inssustentabilidade" e a sustentabilidade ocorram, embora eu ache que estamos mais próximos da “inssustentabilidade”. Por outro lado, a correlação entre as espécies do planeta, inclusive o homem, é frágil, deixando o ponto de equilíbrio e de ruptura muito próximos. É uma estabilidade dinâmica, ainda sustentável mas que exige uma atenção especial e imediata de todos os seres pensantes desse planeta. É verdade que todo ecossistema pulsa, mas pode haver uma ruptura. Os povos com suas culturas, tem o direito de usufruir do Éden hoje, amanhã e sempre. Mas não estamos "sos" no paraíso e precisamos preservá-lo para que ele seja de fato eterno. Temos que pensar no nosso sustento consumindo somente o necessário e para que tenhamos um futuro sempre melhor.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Novo Índice

Pesquisas recentes acabam de derrubar o velho método de cálculo do IMC (índice de massa corporal) que é a razão do peso em quilogramas pelo quadrado da altura em metros.  IMC = P(kg)/H²(m), onde a zona fora de perigo, se eu não me engano, ficava entre o IMC 17 e 30. (1730). O novo método usa o índice referente a circunferência do abdomem, ou seja, é a razão da circunferência do quadril em centímetros, pelo produto da altura em metros, vezes a raiz quadrada da altura(m), menos uma constante igual 18. IAC = (Circ)/H(m)xH-²(m) - 18. Blá, blá, blá, e eu sei lá pra que serve isso! Que diferença faz?

terça-feira, 20 de março de 2012

Poemas de Vinicius de Moraes

Não sei porque surgiu subtamente essa paixão toda por ele. Mas.. vai lá:

RETRATO DE MARIA LÚCIA - (VINICIUS DE MORAES)

Tu vens de longe; a pedra

Suavizou seu tempo

Para entalhar-te o rosto

Ensimesmado e lento

Teu rosto como um templo

Voltado para o oriente

Remoto como o nunca

Eterno como o sempre

E que subtamente

Se aclara e movimenta

Como se a chuva e o vento

Cedessem seu momento

À pura claridade

Do Sol do amor intenso!





O POETA - (Vinícius e Moraes)

Olhos que recolhem

Só tristeza e adeus

Para que outros olhem

Com amor os seus.

Mãos que só despejam

Silêncios e dúvidas

Para que outras sejam

Das suas, viúvas.

Lábios que desdenham

Coisas imortais

Para que outros tenham

Seu beijo demais.

Palavras que dizem

Sempre um juramento

Para que precisem

Dele, eternamente.



O Mosquito - (Vinícius de Moraes)

Parece mentira

De tão esquesito:

Mas sobre o papel

O feio mosquito

Fez sombra de lira!



O MAIS-QUE-PERFEITO - (Vinicius de Moraes)

Ah, quem me dera ir-me

Contigo agora

Para um horizonte firme

(Comum, embora...)

Ah, quem me dera ir-me!

Ah, quem me dera amar-te

Sem mais ciúmes

De alguém em algum lugar

Que não presumes...

Ah, quem me dera amar-te!

Ah, quem me dera ver-te

Sempre a meu lado

Sem precisar dizer-te

Jamais: cuidado...

Ah, quem me dera ver-te!

Ah, quem me dera ter-te

Como um lugar

Plantado num chão verde

Para eu morar-te

Morar-te até morrer-te...



O ESPECTRO DA ROSA - (VINICIUS DE MORAES)

Juntem-se vermelho

Rosa, azul e verde

E quebrem o espelho

Roxo para ver-te

Amada anadiômena

Saindo do banho

Qual rosa morena

Mais chá que laranja.

E salte o amarelo

Cinzento de ciúme

E envolta em seu chambre

Te leve castanha

Ao branco negrume

Do meu leito em chamas.



NATAL - (Vinícius de Moraes)

A grande ocorrência

Que nos conta o sino

É que, na indigência

Nasceu um menino.

Mil e novecentos

E cinqüenta e três

Anos são paremptos

Dessa meninez.

Muito tempo faz...

Mas ninguém olvida

Que é um dia de paz...

Porque fez-se a vida!

Natal de 1953



DIALÉTICA - ( Vinícius de Moraes)

É claro que a vida é boa

E a alegria, a única indizível emoção

É claro que te acho linda

E em ti bendigo o amor das coisas simples

É claro que te amo

E tenho tudo para ser feliz

Mas acontece que eu sou triste...



A ESTRELINHA POLAR - (Vinícius de Moraes)

De repente o mar fosforeceu, o navio ficou silente

O firmamento lactesceu todo em poluções vibrantes de

astros

E a Estrelinha Polar fez um pipi de prata no atlântico

penico.



OS POLITÉCNICOS - ( Vinicius de Moraes)

FUI a São Paulo, a convite do Grêmio dos Politécnicos, bater um papo com os rapazes em sua Faculdade. Recusei-me a fazer uma palestra, pois sou homem de língua emperrada; mas os motivos para a minha ida como me foram apresentados pelos futuros engenheiros paulistas, pareceu-me bastante válidos, além de modestos. Têm eles que a carreira escolhida oferece o perigo de canalizar o pensamento para problemas puramente tecnológicos, em prejuízo de uma humanização mais vasta, tal como a que pode ser adquirida em contato com o homem em geral e as artes em particular.

Há muito não me sentava diante de tanto moços, com um microfone na mão, para lhes responder o que desse e viesse. _ "Quem sou eu _ perguntei-me, não sem uma certa amargura _ quem sou eu, que não sei sequer consertar uma tomada elétrica, para arrogar-me o direito de vir responder às perguntas destes jovens que amanhã estarão construindo obras concretas e positivas para auxiliar o desenvolvimento deste louco país?" Mas eles, aparentemente pensavam o contrário pois puseram-se a bombardear-me de perguntas que, falar verdade, não dependiam em nada de cálculos, senão de experiência, bom-senso e um grão de poesia. Providenciaram mesmo uma bonita cantorazinha de nome Mariana, que estreava na boate Cave (de onde partiram para fama Almir Ribeiro e Morgana) para cantar coisas minhas e de Antônio Carlos Jobim: o que era feito depois de eu responder se acreditava ou não em Deus, como explicava a existência de mulheres feias e o que pensava de João Gilberto.

A homenagem foi simpática, mas no meio daquilo tudo comecei a ser tomado por uma sensação estranha. Aqueles rapazes todos que estavam ali, cada um com a sua personalidade própria _ João gostando de romance Lolita, Pedro detestando; Luís preferindo mulatas, Carlos louras; Francisco acreditando em Karl Marx, Júlio em Jânio Quadros; Kimura preferindo filme de mocinho, Giovanni gostando mais de cinema francês _ já não os tinha visto eu em outras circunstâncias, em outros tempos? Aquele painel de rostos desabrochando para a vida, aqueles olhos sequiosos ao mesmo tempo de amor e conhecimento, não eram eles o primeiro plano de uma imagem que se ia perder no vórtice de uma perspectiva interminável, como num jogo de espelhos? Atrás de cada uma daquelas faces não havia o fotograma menor de outra face, como ela ávida de saber o porquê das coisas, e atrás dessa outra, e mais outra, e outra ainda? Vi-os, de repente, todos fardados me olhando, atentos às instruçõs de querra que eu lhes dava em voz monótona: "_ Os três grupos decolarão em intervalos de cinco minutos, e deixarão cair sua carga de bombas nos objetivos A, B e C, tal como se vê no mapa. É favor acertarem os relógios..." Mariana cantava, um pouco tímida diante de tantos rapazes, a minha "Serenata do Adeus":

Ai, vontade de ficar mas tendo de ir embora...

Qual daqueles moços seria um dia ministro? Qual seria assassino? Quem, dentre eles, trairia primeiro o anjo de sua própria mocidade? Qual viraria grã-fino? Qual ficaria louco?

Tive vontade de gritar-lhes: "Não acreditem mim! Eu também não sei nada! Só sei que diante de mim existe aberta uma grande porta escura, e além dela é o infinito _ um infinito que não acaba nunca! Só sei que a vida é muito curta demais para viver e muito londa demais para morrer!"

Mas ao olhar mais uma vez seus rostos pensativos diante da canção que lhes falava das dores de amar, meu coração subitamente se acendeu numa grande chama de amor por eles, como se eles fossem todos filhos meus. E eu me armei de todas as armas da minha esperança no destino do homem para defender minha progênie, e bebi do copo que eles me haviam oferecido, e porque estávamos todos um pouco emocionados, rimos juntos quando a canção terminou. E eu fiquei certo de que nenhum deles seria nunca um louco, um traidor ou um assassino porque eu os amava tanto, e o meu amor haveria de protegê-los contra os males de viver.